terça-feira, 30 de agosto de 2022

Saudade

O peito cala e a voz fenece
Constrito coração, corcoveia
Salgada torrente na pele aquece
Dor, dormência até (esque)ser nada

Embotamento sentido, da razão
Assume o andar autômato então
Estar presente sem conviver
O corpo ali, mas a alma a condoer

E o remédio, bendito esquecimento
Tomado gota a gota, o tempo
Não tem prescrição, sem cabimento
Remédio amargo, efeito lento 

sexta-feira, 11 de março de 2022

"Seres coletâneas"

 Seríamos complexos álbuns?

Cores, risos, formas, contornos

Ou miscelâneas, aleatórias trajetórias?

Cheiros, sabores, beijos, tremores

Filmes, preto & branco ou sépia?

Instante, hora, eternidade inteira


Caminhando, relicários de si mesmos

Peças únicas! Caleidoscópicas

Coletâneas, enciclopédicas históricas

Contidos universos de estrelas-memória

Cada passo, uma nova aquisição, transição

Pensamento, afeto, sentimento, repulsão


Páginas retas, margens retas que são

Bidimensionais, sem conter, o ser irracional

Esse que é matéria, mas vai acolá e além

Aqui estar, pés no chão, e então não

O passado hesitante, vago e distante

Um futuro incerto, de quando vem.



sábado, 26 de fevereiro de 2022

Re-começar

 Tentar, após parco início 

Em curto prefixo, monossilabo

Fonema unic, porém  imenso,

Em sentidos, em força,  em si próprio 


Os começo são celebrados,

Re-começos serão austeros

Singelo na escrita, vasto de significado 

Re fazer-se é retornar, é desdobrar-se


O refazer reverbera em som, em vida

As nuances objetivadas tremulando

A perturbação do esforço, ecoando

Fazer-se, re-fazer-se, ser-se, será!?!


Audacioso e singelo fonema, re

Agigantando medos e porens

Inflado de julgamentos,  lamentos

É  recomeço,  é meio, é fim 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Deprimir-se

 Estado inerte de ser e estar

O peso de existir em toneladas

A distância da realidade em anos-luz

É um saber-se vivo por instinto

Enquanto o sentir escola pelos dedos

O pesar assoma, o afeto aquece, mornos

Estar alheio tentando estar presente

Tentar viver e apenas (re)existir

O tempo voa enquanto o ser escola

Suspenso em vácuo, esgaçando a vida

O frágil tecido que tornou-se fardo



quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Indagações

 Quanta dor, sente a gente

Que é auto-dor, patente?

Quanto dá dor, na gente 

Vem de fora, externa-mente?


Quanto de com-doer você

Sustenta, estoicamente?

Quando de pesar nos cabe 

Por si mesma, a mente?


Saber-se vivo, com sentido 

Ver o tempo correr inexorável

O ferir autômato cotidiano


Imperativo é viver, não resistir 

Deixar te ser, um ser imperfeito

Acalentar a si, sem desengano 









quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Quando o poeta encontra o amor





Existo, sinto, penso

Faço, movimento, passo

Esbarro, paro, percebo


E há amor, substantivo!

Toda ação, nele contém

Verbo supresso, substantivado


Sujeito ativo e passivo

Poeta é sempre receptivo

Ah! O amor é transitivo!

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Apresentação/Retorno


Eis que depois de 10 anos, ou "só 10 voltas ao redor do astro rei?" , desviando as órbitas ,oculares, do microcosmos interno e voltando-as ao universo circundante, a escrita me transborda e urge ser retomada. Como sinto, como sou, como respiro: escrever me auxilia a entender o mundo, me entendendo no processo.

O primeiro blog de escrita que criei (Alma ao Microscópio) numa época em que a internet ainda não era ferramenta corriqueira e as conexões humanas predominavam in persona, me auxiliou a manter o hábito da escrita regular e de certo modo canalizar perturbações por meio do processo criativo. Num momento de ápice da conectividade esse processo mais lento e introspectivo me falta e pretendo retomar. Então surge "Uma Alma e um Telescópio".



Saudade

O peito cala e a voz fenece Constrito coração, corcoveia Salgada torrente na pele aquece Dor, dormência até (esque)ser nada Embotamento sent...